|

Proseando

O que for a profundeza do teu ser, assim será teu desejo.
O que for o teu desejo, assim será tua vontade.
O que for a tua vontade, assim serão teus atos.
O que forem teus atos, assim será teu destino.”
– Brihadaranyaka Upanishad IV, 4.5

 

Minhas Confissões

Onde estou? Quem sou?…
Queria poder transmitir-lhes minha vontade
de entrar na “casa dele”, habitar ali
e sentir, bem de perto, suas alegrias e pesares.
Seria maravilhoso poder descrever-lhes, em tons fortes,
minha inquietude na espera de ser convidado a ultrapassar
a porta que separa o seu mundo do meu.
Bom seria também se vocês pudessem sentir
o sorriso que se abre dentro de mim,
quando abandono minha vida lá fora e
me entrego – todo – à vida dele.
Fico feliz quando ele me toma pela mão
e me leva a conhecer cada recanto de sua morada.
É como se eu deixasse de existir, me perdesse no universo dele…
– E começa a procura…
Aqui e ali nos desencontramos,
pois “a casa” tem muitos cômodos, e nós não a conhecemos bem.
Ele não tem, também, muita idéia de como é sua própria casa.
Somos dois exploradores de mãos dadas…
Os dias se passam e, muitas vezes, estamos “parados”, no mesmo lugar…
Não sabemos por aonde ir, o que fazer…
Ele dá um sorriso alegre – “encontrou” um velho e querido brinquedo esquecido
pelo tempo que já longe vai…
É uma boneca de pano – velha, mas linda!…
É um carrinho sem rodas que lhe faz brotar – lá do fundo – uma lágrima de dor.
É um nome – Pedrinho – que faz com que seu corpo todo seja – de alegria – um
tremor só: foi uma época inesquecível!!!…
É um olhar fugidio e um ar de tristeza: uma gaiola já enferrujada e vazia…
Seu mundo vai-se tornando também meu.
Posso quase tremer de alegria, ou chorar de tristeza, ao “lembrar” de nomes e
ao “ver” objetos.
E eu “não existo” naquele momento…
Eu “sou” o outro.
Eu vivo muitas vidas além da minha.
Eu me sinto um velho… Eu me sinto uma criança…
Sinto-me EU. Sinto-me ELE, fazendo-me as mesmas perguntas:

Onde estou? Quem sou?S

 

Ser Psicólogo

Ser psicólogo é uma imensa responsabilidade.
Não apenas isso é também uma notável dádiva.
Desenvolvemos o dom de usar a palavra, o olhar,
as nossas expressões, e até mesmo o silêncio.
O dom de tirar lá de dentro o melhor que temos
para cuidar, fortalecer, compreender, aliviar.

Ser psicólogo é um ofício tremendamente sério.
Mas não apenas isso é também um grande privilégio.
Pois não há maior que o de tocar no que há de mais
precioso e sagrado em um ser humano: seu segredo,
seu medo, suas alegrias, prazeres e inquietações.

Somos psicólogos e trememos diante da constatação
de que temos  instrumentos capazes de
favorecer o bem ou o mal, a construção ou a destruição.
Mas ao lado disso desfrutamos de uma inefável bênção
que é poder dar a alguém o toque, a chave que pode abrir portas
para a realização de seus mais caros e íntimos sonhos.

Quero, como psicólogo aprender a ouvir sem julgar,
ver sem me escandalizar,  e sempre acreditar no bem.
Mesmo na contra esperança, esperar.
E quando falar, tiver consciência do peso da minha palavra,
do conselho, da minha sinalização.
Que as lágrimas que diante de mim rolarem,
pensamentos, declarações  e esperanças testemunhadas,
sejam segredos que me acompanhem até o fim.

E que eu possa ao final ser agradecido pelo privilégio de
ter vivido para ajudar as pessoas a serem mais felizes.
O privilégio de tantas vezes ter sido único na vida de alguém que
não tinha com quem contar para dividir sua solidão,
sua angústia, seus desejos.
Alguém que sonhava ser mais feliz, e pôde comigo descobrir
que isso só começa quando a gente consegue
realmente se conhecer e se aceitar.
(W.M)

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *