Como saber se tenho dependência emocional e o que fazer para tratar?
Escrito por Daniela Carneiro
Você sente que seus relacionamentos drenam sua energia e que, mesmo querendo ser feliz, acaba preso em padrões que se repetem? A dependência emocional é justamente esse ciclo: viver em função do outro, perder de vista os próprios limites e colocar o bem-estar sempre em segundo plano.

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Neste artigo, você vai entender o que realmente significa ser emocionalmente dependente, como identificar os sinais mais comuns e, principalmente, quais caminhos podem ajudar a superar essa condição. Reconhecer esse comportamento é o primeiro passo para retomar o equilíbrio, fortalecer a autoestima e construir vínculos mais saudáveis.
O que é a dependência Emocional?
Em termos técnicos, a dependência emocional caracteriza-se por um padrão relacional disfuncional, no qual o indivíduo estabelece um vínculo de apego assimétrico e excessivo, delegando ao outro a regulação de sua autoestima, senso de segurança e percepção de valor pessoal.
A dependência emocional é como viver acorrentado a outro ser humano, acreditando que sem ele você não existe. É colocar sua autoestima, segurança e alegria no bolso alheio, esperando que o outro decida se você vale a pena. Esse tipo de apego não é amor, é submissão disfarçada de carinho. Quem depende assim não ama, implora. E implorar nunca será a base de uma relação saudável.
Esse tipo de dependência vai além de um simples apego; ela reflete uma submissão e uma necessidade desmedida de validação externa, o que pode levar a graves consequências para ambas as partes do relacionamento. Este artigo aborda, em profundidade, a dependência emocional, suas causas, sintomas e os tratamentos disponíveis, a buscar ajuda psicológica pode ser essencial para melhoria dos sintomas e fortalecimento da personalidade.
O que dizem as pesquisas sobre a Dependência Emocional?
Pesquisas recentes mostram que a dependência emocional apresenta características comuns às adições químicas, ativando os mesmos circuitos de recompensa no cérebro e gerando sintomas de fissura e abstinência quando o vínculo é ameaçado.
Estudos sobre estilos de apego apontam forte associação entre esse padrão e vínculos ansiosos ou ambivalentes, nos quais predomina a insegurança em relação a si mesmo e a idealização do outro.
Além disso, fatores culturais, como a idealização romântica difundida pela mídia, reforçam comportamentos de submissão e a crença de que o amor só é válido quando vivido de forma absoluta e exclusiva.
Esse conjunto de influências torna a dependência emocional uma condição complexa e multifatorial, associada a baixa autoestima, medo intenso da solidão e maior vulnerabilidade a quadros como depressão, ansiedade e violência nas relações.
Pessoas emocionalmente dependentes apresentam uma série de comportamentos característicos, tais como:
Medo do Abandono
Na perspectiva psicanalítica, o medo do abandono está profundamente enraizado nas primeiras experiências infantis de vínculo e apego com os cuidadores. De acordo com Sigmund Freud, a relação primordial com a figura materna é a primeira experiência de amor e proteção que o ser humano vivencia.
Essa relação inicial molda as expectativas e os medos em relação aos relacionamentos futuros. O medo irracional de ser abandonado, portanto, pode ser uma expressão de angústias primárias, ligadas ao temor de perder o “objeto de amor” que, na infância, representa a sobrevivência emocional e física.
Melanie Klein, uma das principais teóricas psicanalíticas, expandiu essa ideia ao propor que o medo do abandono está ligado às fantasias inconscientes de perda e separação. Segundo Klein, a angústia de separação surge na fase inicial do desenvolvimento, quando o bebê começa a perceber a mãe como uma figura independente, separada de si.
O indivíduo, ao longo da vida, pode reviver essa angústia em relacionamentos amorosos, especialmente se experiências precoces de perda ou ausência forem traumáticas.
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Esse medo irracional de abandono pode, assim, se manifestar na vida adulta como uma ansiedade crônica de que o parceiro(a) possa deixá-lo. Em muitos casos, a pessoa busca de forma desesperada garantir a presença e o afeto do outro, utilizando comportamentos obsessivos, possessivos ou controladores.
De forma inconsciente, o medo do abandono reflete a dificuldade em lidar com a separação e a solidão, o que pode criar dinâmicas tóxicas de dependência emocional. A psicanálise vê esse processo como uma repetição inconsciente de padrões infantis mal resolvidos, que precisam ser trabalhados em terapia para que o indivíduo possa desenvolver um senso de segurança interna.
Idealização do outro
A idealização do outro, segundo a psicanálise, tem suas raízes na fase de desenvolvimento chamada de “idealização do objeto”. Freud sugeriu que, em nossa infância, as figuras parentais, especialmente a mãe ou o pai, são idealizadas como seres poderosos e perfeitos, capazes de prover todas as nossas necessidades. Essa idealização é natural no início da vida, mas quando persiste na vida adulta, reflete uma dificuldade em aceitar a imperfeição tanto do outro quanto de si mesmo.
Para Klein, a idealização é uma defesa contra os sentimentos de ódio ou inveja inconscientes que surgem na relação com o “objeto bom” (o parceiro ou a parceira). Ao idealizar o parceiro(a), o indivíduo protege-se da angústia que a imperfeição do outro poderia causar, reprimindo qualquer sentimento negativo que possa surgir. Assim, o outro é visto como perfeito e maravilhoso, o que cria uma barreira contra os sentimentos de frustração, medo e inveja.
Na prática, essa idealização pode gerar uma relação desequilibrada, na qual a pessoa dependente se submete às vontades do parceiro(a) idealizado, ignorando os defeitos ou problemas da relação. A idealização também revela uma negação inconsciente da própria vulnerabilidade e da imperfeição humana.
A psicanálise nos ensina que, ao trabalhar esses sentimentos e aceitar a realidade do outro como um ser falível, o indivíduo pode começar a estabelecer relações mais realistas e saudáveis, nas quais ambos os parceiros se veem como iguais, sem a necessidade de projeções idealizadas.
Como é o comportamento do dependente emocional?
A submissão constante no contexto da dependência emocional pode ser compreendida à luz da teoria psicanalítica como uma defesa contra sentimentos de inadequação e baixa autoestima.
De acordo com Freud, o superego, que é a internalização das regras e normas sociais, pode se tornar excessivamente punitivo, levando o indivíduo a sentir uma necessidade incessante de agradar os outros para evitar sentimentos de culpa ou rejeição. Essa necessidade de submissão é uma maneira de se manter “amado” ou “aceito” pelo outro, mesmo à custa de si mesmo.
Na visão de Winnicott, um importante teórico pós-freudiano, a submissão constante pode estar relacionada a um “falso self” desenvolvido durante a infância. O falso self surge quando o ambiente não fornece ao bebê o suporte emocional necessário para que ele se desenvolva de forma autêntica.
Como resultado, a criança aprende a se adaptar excessivamente às expectativas dos outros, em detrimento de suas próprias necessidades. Na vida adulta, isso se manifesta como submissão, na qual o indivíduo coloca as necessidades do parceiro(a) acima das suas, muitas vezes sem perceber o dano que isso causa à sua identidade e bem-estar.
A submissão constante, no contexto psicanalítico, reflete uma busca inconsciente por amor e aceitação, que muitas vezes está ligada a experiências infantis de desaprovação ou negligência emocional.
O trabalho psicanalítico ajuda o paciente a reconhecer esses padrões, permitindo que ele recupere sua capacidade de afirmar suas próprias necessidades e desejos sem medo de rejeição ou punição.
Chantagem emocional
A chantagem emocional, dentro da teoria psicanalítica, pode ser vista como uma forma de defesa contra o medo profundo da perda e do desamparo. Segundo Freud, a chantagem emocional está ligada a mecanismos inconscientes de manipulação que têm suas raízes em experiências infantis de insegurança emocional.
Quando uma criança sente que o amor ou a atenção de seus cuidadores não é garantido, ela pode aprender a manipular o ambiente emocional ao seu redor para garantir que suas necessidades sejam atendidas.
Klein também propôs que a chantagem emocional é uma manifestação de conflitos inconscientes de amor e ódio. O indivíduo que utiliza a chantagem emocional muitas vezes faz isso porque teme ser abandonado ou rejeitado, mas ao mesmo tempo sente raiva ou frustração em relação ao parceiro(a).
Esses sentimentos ambivalentes levam à manipulação emocional como forma de manter o controle sobre a relação, assegurando que o parceiro(a) continue comprometido, mesmo que isso signifique forçá-lo a ficar por meio de culpa ou medo.
Winnicott sugeriria que a chantagem emocional também pode ser uma tentativa de criar um “ambiente seguro” em um relacionamento instável. Para aqueles que têm medo de perder o vínculo, a manipulação pode ser vista como uma maneira de garantir a continuidade desse ambiente, ainda que de maneira disfuncional.
No entanto, a chantagem emocional não resolve os conflitos que estão encobertos; ao contrário, ela alimenta uma dinâmica tóxica que só aumenta a tensão e o sofrimento na relação. A psicanálise pode ajudar a pessoa a reconhecer esses mecanismos inconscientes de manipulação e a substituí-los por formas mais saudáveis de comunicação e vínculo afetivo.
Esses comportamentos, se não tratados, podem se intensificar, levando a conflitos contínuos, sofrimento emocional e, em casos extremos, depressão.
A Importância do tratamento para dependência emocional
Sim, existe tratamento para a dependência emocional, e a psicoterapia é uma das abordagens mais eficazes. A psicanálise, por exemplo, oferece um espaço de escuta onde o paciente pode explorar suas emoções, ressignificar experiências passadas e entender as causas subjacentes de sua dependência emocional.
Outros tipos de terapia, como a terapia cognitivo comportamental (TCC), também são eficazes ao ajudarem o paciente a identificar padrões de pensamento e comportamento destrutivos, promovendo mudanças positivas.
Tipos de Terapia para a dependência emocional
- Terapia Individual: Focada na compreensão das raízes da dependência emocional, ajudando o paciente a recuperar sua autonomia.
- Terapia de Casal: Indicada quando o relacionamento está diretamente impactado pela dependência emocional, oferecendo uma oportunidade para ambos os parceiros se reconectarem de maneira saudável.
- Terapia de Grupo: Permite ao paciente compartilhar suas experiências com outros que enfrentam desafios semelhantes, promovendo a empatia e o apoio mútuo.
- Terapia Online: Uma opção flexível e acessível para aqueles que preferem buscar tratamento no conforto de casa.
Causas da Dependência Emocional
As possíveis causas da dependência emocional podem variar, mas geralmente estão associadas a fatores como:
- Carências Afetivas na Infância: A falta de afeto ou valorização durante a infância pode levar a uma necessidade constante de aprovação e carinho na vida adulta.
- Traumas Emocionais: Experiências de abandono ou rejeição em relacionamentos anteriores podem desencadear o desenvolvimento de comportamentos dependentes.
- Insegurança e Baixa Autoestima: Pessoas que têm uma visão negativa de si mesmas tendem a procurar a validação de terceiros para se sentirem seguras e amadas.
Características do Dependente Emocional
O dependente emocional costuma demonstrar características específicas, como:
- Submissão: Mesmo quando o relacionamento é claramente prejudicial, a pessoa continua se submetendo às vontades do parceiro(a).
- Manipulação Emocional: Para evitar o término do relacionamento, o dependente emocional pode usar chantagens e manipulações, criando uma dinâmica tóxica.
- Necessidade Constante de Validação: Essas pessoas frequentemente buscam o reconhecimento do outro para se sentirem valorizadas, colocando-se em situações onde o medo do erro é constante.
Como Superar a Dependência Emocional?
A dependência emocional pode ser superada, mas isso requer comprometimento e disposição para enfrentar as causas profundas desse comportamento. Aqui estão algumas dicas para começar esse processo de superação:
Quais os sintomas do dependente emocional?
O primeiro passo para superar a dependência emocional é reconhecer que ela existe. Muitos indivíduos permanecem presos em relacionamentos tóxicos porque não conseguem identificar os comportamentos dependentes. Fazer uma autoanálise e estar atento aos sinais de submissão e necessidade excessiva de validação é fundamental.
Como posso recuperar minha autonomia?
Aprender a tomar decisões de forma independente e recuperar seu espaço pessoal são passos essenciais para a superação da dependência emocional. Isso envolve retomar atividades que proporcionam prazer e satisfação pessoal, sem depender do parceiro(a) para se sentir completo(a).
Valorize suas qualidades
Muitas pessoas emocionalmente dependentes sofrem de baixa autoestima. Aprender a valorizar suas próprias qualidades e competências, sem se comparar constantemente com os outros, pode ajudar a reduzir a necessidade de validação externa.
Busque ajuda profissional
A psicoterapia é uma opção valiosa para o processo de superação da dependência emocional. Um psicólogo pode ajudar a identificar os gatilhos que levam ao comportamento dependente e fornecer ferramentas para fortalecer a autoestima e a autossuficiência emocional. Não hesite em buscar ajuda profissional, especialmente se o comportamento dependente estiver afetando negativamente sua vida.
Evite criar expectativas e idealizações
Muitas vezes, os dependentes emocionais idealizam seus parceiros, atribuindo-lhes qualidades perfeitas e ignorando seus defeitos. Isso não apenas coloca o outro em um pedestal irreal, mas também impede o desenvolvimento de uma relação saudável e equilibrada. Aceitar o parceiro(a) como uma pessoa imperfeita, com defeitos e qualidades, é fundamental para a construção de um relacionamento mais realista.
Relacionamento tóxico baseado na dependência emocional
Um relacionamento tóxico baseado na dependência emocional tende a gerar um ciclo vicioso, onde o medo de perder o parceiro(a) leva a comportamentos de manipulação e chantagem emocional.
O dependente emocional faz de tudo para manter o parceiro(a) próximo, incluindo desmarcar compromissos, isolar-se de amigos e familiares, e colocar as necessidades do parceiro(a) acima das suas. Isso, por sua vez, sufoca o outro, que pode começar a se afastar, criando um círculo de insegurança e sofrimento.
Efeitos Psicológicos da Dependência Emocional
A dependência emocional pode ter sérios impactos psicológicos, incluindo:
- Ansiedade: O medo constante de perder o parceiro(a) pode levar a crises de ansiedade.
- Depressão: A sensação de não ser capaz de satisfazer as próprias necessidades pode gerar sentimentos de desesperança e tristeza profunda.
- Isolamento Social: A necessidade de agradar o parceiro(a) pode levar ao afastamento de amigos e familiares, resultando em isolamento.
Como romper com um relacionamento tóxico?
Para romper um relacionamento tóxico é importante você estar emocionalmente fortalecido(a). Isso significa que conforme vai aprendendo sobre seu funcionamento diante de situações que lhe causam medo, inseguranças ou raiva, é possível fazer mudanças conscientes e consistentes.
As decisão de romper o ciclo da dependência emocional parte do principio de como você reage aos comportamentos dos outros. Mesmo que no fundo os sentimentos sejam dolorosos, a sua postura é firme e segura, menos dominada pela carência afetiva e mais baseada no amor próprio.
Se você se encontra em uma relação desse tipo, considere buscar apoio de um psicólogo para ajudar a entender seus sentimentos e criar um plano de ação para se libertar.
A Psicologia ajuda com dependência emocional?
A psicologia oferece diversas abordagens que podem ajudar as pessoas a superar a dependência emocional. Ao buscar a ajuda de um psicólogo, você estará dando o primeiro passo para a cura e o autoconhecimento. A terapia permite que você entenda as causas profundas de seus comportamentos, fortaleça sua autoestima e desenvolva relações mais saudáveis.
Existe uma terapia para a Dependência Emocional?
Existe a proposta de um processo psicoterapêutico para o entendimento da questão baseada neste tipo de comportamento onde o apego passa a ser patológico, prejudicando a qualidade da vida afetiva da pessoa.
A terapia para a dependência emocional visa:
- Autoconhecimento: Exploração de suas experiências passadas e como elas influenciam seus comportamentos atuais.
- Ressignificação de Emoções: Redefinir as emoções associadas a traumas e experiências negativas para promover a cura emocional.
- Fortalecimento da capacidade de auto regulação emocional: desenvolver de uma visão mais positiva de si mesmo, saber encontrar seus limites internos, ser capaz de sustentar relações livre de apego demasiado a partir de uma segurança emocional ressignificada.
Por que buscar ajuda é importante?
Se você identificou os sintomas de dependência emocional em si mesmo, é fundamental buscar ajuda. A dependência emocional está associada a comorbidades (como depressão, transtornos ansiosos, transtornos alimentares) e pode favorecer comportamentos autodestrutivos e violência doméstica. A dependência emocional, quando não tratada, pode comprometer sua saúde mental e emocional, afetando negativamente todas as áreas de sua vida.
O apoio de um Psicólogo
Fazer terapia com psicólogo, receber apoio, acolhimento, escuta e direcionamento faz total diferença para encontrar uma solução para a dependência emocional. O tratamento psicológico é um processo que oferece a oportunidade de escolhas possíveis na sua vida. Um espaço de análise interior, que pode proporcionar o autoconhecimento daquilo que ainda não é fácil de acessar. Ou seja, as dores, mágoas, ressentimentos, raiva, medo, falta de amor, falta de reconhecimento, entre tantos outros.
O apoio de um psicólogo no processo de superação da dependência emocional pode ajudar a orientar você na jornada de autoconhecimento e na remissão dos sintomas.
Você está enfrentando a dependência emocional? Fica inseguro(a)? Venha conversar comigo